Noite Macabra
Boris de Pedra
Até parecia uma montanha. Imagina um cara com
mais de dois metros de altura e uns cento e vinte quilos. É uma cara forte e
com uma cara de mau. Alguém assustador.
Por isso ele prestava serviço de segurança.
Trabalhava na noite. Era segurança de balada. As mais agitadas sempre o
contratavam. Afinal, a simples visão do seu perfil intimidava qualquer um.
Enfim, era um profissional muito bem conceituado
no mercado. Entretanto, ele gostava de trabalhar em inferninhos. Gostava de
prestar os seus serviços quando ocorriam shows de rock and roll.
Naquela noite ele estava no Limbo, uma casa
noturna que era uma espécie de boate underground clandestina.Lotação máxima.
Pelo fato de não ser legalizada funcionava em datas agendadas com antecedência.
Por exemplo, estas datas coincidiam com a noite
de lua cheia. Isto facilitava na hora de fechar o negócio. Assim, no dia que a
Limbo abria as portas não trabalhava em lugar algum.
Ainda mais naquela noite. Haveria o show do Noite
Macabra, uma banda que tinha como vocalista Mike Phone. Ele era tão gótico que
parecia mais um vampiro.
Eles tinham fãs que o acompanhavam onde quer que
tocassem. Caronte, o grandalhão, gostava desta banda. Enfim, ele é que decidia
quem entraria no Limbo. Lá dentro a festa bombava. O bar vendia bem. A música
se espalhava pelo ambiente no som mais alto. Predominava o escuro sobre a
claridade que surgia com as luzes que piscavam. Tudo parecia ficar em Câmera
lenta.
Na pista de dança Veruska Veneno se destacava.
Talves por sua aparência. Talvez por sua dança.Enfim, chamava atenção por sua
exuberância. Também era conhecida como a cabritinha do inferno. Isto porque em
suas costas sobre o ombro direito havia um bode preto tatuado. Um cara que
ficou com ela espalhou a notícia.
Ela resolveu respirar um pouco. O ambiente era esfumaçado
o que aumentava a sensação de calor. Foi até o balcão. Automaticamente foi
atendida. O barman era um cara bigodudo que mais parecia um hell´s angels deu
uma olhadinha como se fosse um sinal.
Ninguém notou nada. Parecia um código. Isto
porque ela logo entendeu do que se tratava. Então, bebericou seu drink e
atendeu seu celular que começou a vibrar. Talvez não fosse obra do acaso, mas a
ligação estava sendo feita do mesmo balcão, a menos de um metro de onde estava.
Eles estavam ao lado de Veruska. Eram três. Uma
noite ainda mais divertida. Esta era a intenção que povoava suas mentes
estimuladas pelo consumo de álcool. Um deles morava com a avó que estava
viajando para o interior. Era a senha. Um deles veio com a idéia que todos
acolheram. Logo, entrarm em acordo. Decidiram contratar umas garotas para que
fizessem streap tease.
Segundo as informações colhidas ali mesmo naquele
inferninho, havia um cachê. Um valor a ser pago em moeda corrente pela
apresentação. Isto já era muito estimulantes. Pelo menos para aqueles três
bêbados.
Caso houvesse um interesse de uma maior
aproximação, algo como aprofundar a relação estabelecida era possível
renegociar os valores. Isto implicaria em um momento a sós e com pouca ou
nenhuma roupa.
Eles, então, caíram na risada. Havia excitação no
sorriso de cada um deles. Eram todos canalhas e aquilo sugeria uma diversão
adequada. Algo tão banal que era inocente. Entretanto, um deles, pensava um
pouco diferente. Ele não concordava muito com seus parceiros de balada.que às
vezes se passavam como sendo seus amigos. Por isso embarcava na onda. Afinal,
tinha que fazer parte do time.
Inclusive, os brothers estavam no Limbo por sua
indicação. Ele curtia o Noite Macabra. Tentava se vestir como o vocalista da
banda. Quando vestia aquelas roupas pretas sentia-se como um membro da banda de
Mike Phone. Tinha até um codinome que ele mesmo criou. Garoto da Meia Noite.
Enfim, mas os três estavam tão envolvidos com a
ilusão de que iriam se divertir bastante, que teriam uma dose a mais de um pouquinho
de felicidade que não perceberam que Veruska atendeu seu celular justamente
quando fizeram a ligação. Ela fez charme, apesar do barulho, e logo perguntou
pelo endereço. Ela sacou que se tratava de um bando de otários e que não
falavam coisa com coisa. Mas isto não seria problema. Bastava seguí-los.
Eles saíram e o garoto da meia noite sentiu que
estava sendo observado. Olhou para trás e notou que Caronte o encarava. Ele não
entendeu e seguiu adiante. Também não notou que Veruska cochichou algo para o grandalhão
. Apesar do tamanho, Caronte, era um tanto efeminado e gostava de trabalhar no
Limbo por causa de momentos como este em que poderia viabilizar uma
possibilidade de encontrar alguém.
Estacionaram o carro na frente da casa da vovó e
entraram. Logo em seguida a campainha tocou. Era Veruska e mais duas amigas.
Elas vestiam poucas peças de roupas e tinham um aspecto provocante. Foram para
a imensa sala. Veruska pediu que apagassem as luzes. Na penumbra elas fizeram
uma espécie de dança onde seus corpos se movimentavam sensualmente.
Os caras ficaram enfeitiçados. Vidrados. Talvez
estivessem de pau duro. Estavam loucos e bêbados e queriam luxúria. A noite
prometia. Um deles deve ter pensado algo assim. As meninas se contorciam e se
insinuavam. Caras e bocas . De repente Veruska ficou sozinha. As outras duas
entraram casa adentro. Isto porque ao chegarem o neto da dona da casa como bom
anfitrião mostrou todos os aposentos. Supostamente elas se dirigiram para os
quartos. Eles ficaram mais loucos ainda. Um deles sumiu também. Deve ter ido
procurar uma das beldades.
Em seguida o outro amigo também desapareceu da
sala. Enquanto isto Veruska de costas rebolava provocando fortes emoções. Aí em
um piscar de olhos o garoto da meia noite se viu sozinho na imensa sala de
estar da casa da vovó de seu brother. Ele disparou a rir à toa. Algo bom
parecia que iria acontecer.
O sorriso escancarado ficou mais parecido com o
riso da Mona Lisa após uns dez, talvez quinze minutos. O silêncio passou a
reinar. Achou estranho. Além disso, tudo estava escuro. A ficha ainda não havia
caído. Até então. Olhou de um lado e de outro. Tudo escuro. Tudo quieto. Foi
quando ouviu um grito.
O grito parecia ser de uma mulher e não tinha
nada a ver com prazer. Era como aqueles de filme de terror. Assim mesmo ficou
na dúvida. Como assim? O que significava isso? Um segundo grito quebrou o
silêncio mais uma vez. Desta mais aterrorizante e agudo. Algo que,
definitivamente, chamava atenção. Aquilo afastou de sua cabeça qualquer
pensamento relacionado com uma fantasia sexual mal resolvida. Temeu pelo pior.
Nada a ver com alegria ou diversão. Agora tinha a noção do perigo. Ou ao menos
uma sugestão de que o trem havia saído dos trilhos. Tinha que tomar uma
atitude. Foi em direção daquele som estridente que abalou sua percepção das
coisas. A medida que dava passos adiante ficava mais aflito.
Entrou em um dos quartos e para seu espanto
observou que seus brothers estavam desnudos e ensangüentados. A cor vermelha se
destacava e predominava no seu campo de visão. Ficou pasmo. Sem ação. Mas esta
havia sido apenas a primeira impressão. Então, notou Veruska, a cabritinha do
inferno. Não havia como negar que fosse gostosa. Apesar da lingerie sensual, ou
algo do gênero, não ficou nenhum pouco excitado. Estava assustado com aquela
situação.
O motivo daquela sensação era o sangue que
escorria dos cantos dos lábios da cabritinha. Ao fundo estavam as amigas que se
contorciam e rebolavam em uma euforia que não era correspondida pelo sentimento
que atravessou seu coração. Por causa da penumbra não teve como avistar sangue
nas garotas. Mas sabia que estavam lambuzadas com o sangue dos seus amigos.
Veruska veio em sua direção. O medo invadiu seu
íntimo. Já estava suando frio. O coração pareci que saltaria pela boca. Teve medo
de morrer. Ficou paralizado. Seus olhos tiveram a intuição de que seria atacado
em quaestão de segundos. Empurrou a cabeça para trás. Sentiu a mão dela
encostando em seu peito. Só restava gritar para que salvassem sua vida.
A porta do quarto havia sido fechada. Não
lembrava disto, mas naquele instante foi arrombada. Caronte arrebentou a porta
com um único chute. Veruska interrompeu seu ataque e desviou o foco de sua
atenção para o grandalhão. Na sequência uma sobra surgiu por trás do
brutamontes. Uma figura sinistra. Ela se afastou do garoto da meia noite.
_
"Você fez um bom trabalho".
Esta frase foi sussurrada em seus ouvido. Era
Mike Phone, o vocalista do Noite Macabra. Ele, então, se aproximou do jovem em
estado de choque e disse: venha conosco!
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